Sustentabilidade é Acção (blogue original)

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28 de março de 2020

"O que o vírus nos está a explicar"



«Acredito que o cosmos tem sua própria maneira de equilibrar as coisas e suas leis, quando elas estão perturbadas.  O momento em que estamos a viver, cheio de anomalias e paradoxos, faz-nos pensar...

Numa época em que as alterações climáticas causadas pelos desastres ambientais atingiram níveis preocupantes, a China em primeiro lugar, e muitos países depois, são forçados a congelar; a economia entra em colapso, mas a poluição diminui consideravelmente. O ar melhora; você usa a máscara, mas respira...

Num momento histórico em que certas ideologias e políticas discriminatórias, com fortes referências a um passado mesquinho, estão  a ser reativadas em todo o mundo, chega um vírus que nos faz experimentar que, em um instante, podemos nos tornar os discriminados, os segregados, os presos na fronteira, os portadores de doenças. Mesmo que a culpa não seja nossa. Mesmo que sejamos brancos, ocidentais e viajando em classe executiva.

Numa sociedade baseada na produtividade e no consumo, em que todos corremos 14 horas por dia atrás do desconhecido, sem sábados nem domingos, sem mais vermelhos no calendário, de um momento para o outro, vem a paragem.

Parados, em casa, dias e dias. Para contar com um tempo cujo valor perdemos, se não for mensurável em compensação, em dinheiro.  Ainda sabemos o que fazer com ele?

Numa fase em que o crescimento dos filhos é, por necessidade, muitas vezes delegado a outras figuras e instituições, o vírus fecha as escolas e obriga-as a encontrar soluções alternativas, para voltar a colocar mães e pais junto dos filhos. Obriga-nos a começar uma nova família.

Numa dimensão onde as relações, a comunicação, a sociabilidade são jogadas principalmente no "não-espaço" da rede social virtual, dando-nos a ilusão de proximidade, o vírus tira-nos a verdadeira proximidade: sem tocar, sem beijar, sem abraçar, à distância, no frio do não-contacto.

Quanto é que tomámos estes gestos e o seu significado como garantidos?

Numa fase social em que pensar no próprio umbigo se tornou a regra, o vírus envia-nos uma mensagem clara: a única saída é a reciprocidade, o sentido de pertença, a comunidade, o sentimento de fazer parte de algo maior para cuidar e que pode cuidar de nós. A responsabilidade partilhada, o sentimento de que o destino não é só de vocês, mas de todos à vossa volta depende das vossas acções. E que tu dependes deles.

Então, se pararmos de fazer caça às bruxas, de perguntar de quem é a culpa ou por que tudo isto aconteceu, mas pensando no que podemos aprender com isso, acho que todos nós temos muito o que pensar e nos comprometer.

Porque com o cosmos e suas leis, obviamente, temos uma dívida de gratidão.
O vírus está a explicar-nos, a um preço muito alto»

Fonte: Francesca Morelli: "ecco cosa ci sta spiegando il virus", em  Vita, 10/3/2020  (tradução livre)
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Publicado em Sustentabilidade é Acção em 17/3/2020
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25 de março de 2020

Como surgiu o coronavírus?

Estudos vários começam a apontar que a origem de muitas doenças epidémicas como a COVID-19, provocada pelo novo coronavírus, são transmitidas por certos animais em determinadas condições. As "zoonoses" são doenças infecciosas capazes de ser naturalmente transmitidas entre animais e seres humanos. Neste caso, ao que tudo indica, a origem estará no comércio de animais selvagens no mercado de Wuhan na China: vejam o vídeo abaixo, explica de uma forma muito clara.


Aconselho a leitura do artigo "Biodiversidade e Saúde" publicado pela Associação Campo Aberto em 2018, e republicado recentemente, devidamente fundamentado, onde o surgimento de doenças epidémicas é inequivocamente ligado à intromissão humana na vida selvagem, do qual ficam aqui dois parágrafos:


«Em pleno Antropoceno, a alteração do uso dos solos, as populações animais e o clima arrastam o aparecimento de doenças transmissíveis dos animais aos seres humanos, ou seja, de zoonoses.

...

Com cerca de 60 por cento dos agentes patogénicos humanos e cerca de 60 por cento das doenças infeciosas emergentes classificadas como zoonoses, ou seja, transmissíveis dos animais aos seres humanos, essas patologias (gripe das aves, VIH SIDA, SRAS e Ebola, etc) representam um desafio crescente de saúde pública a nível mundial.

...
As atividades humanas influenciam a emergência e a transmissão da quase totalidade das zoonoses, quer como motor principal quer como fator secundário.

A humanidade modifica o seu ambiente desde que surgiram seres humanos, mas, com uma população mundial em aumento constante e uma necessidade exponencial de recursos, aumentam de rapidez a expansão geográfica das atividades humanas e as pressões associadas (agricultura, urbanização, atividades industriais). São diminutos os espaços atualmente isentos da marca antrópica.

Daí resulta simultaneamente o desaparecimento em massa das populações animais selvagens e um contacto reforçado do Homem com a fauna cujo espaço vital se vai reduzindo. Estando essa pressão antrópica sem precedentes sobre os ecossistemas em constante aumento,  e em contexto de mudanças ambientais globais, as doenças zoonóticas continuarão no futuro a emergir.»




Este vídeo é uma tradução por QI News do vídeo original de VOX (aqui)

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20 de março de 2020

Carta do #CORONAVIRUS para a Humanidade

Este vídeo é uma mensagem do novo coronavírus para a Humanidade. Aliás, o vírus é apenas o mensageiro, quem manda a mensagem é o planeta Terra. Este  aviso é provavelmente a nossa última chance de mudar de direção, de começarmos a pensar no planeta e agir para o proteger. A sério.

Vídeo original: Letter from #CORONAVIRUS to Humanity

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19 de março de 2020

Pão de fermentação lenta (receita)

Com a dificuldade em sair de casa e em comprar alimentos que vivemos nestes dias de pandemia, partilho aqui uma receita de pão de fermentação lenta - feito com massa-mãe. 

Normalmente, o pão tem de ser  "sovado" (amassado de uma determinada forma). Neste caso, em vez da "sova" uso uma forma mais expedita - maior quantidade de água para o pão ficar "fofo".

Nesta receita a massa é para mexer com colher,  e o pão é feito em 2 etapas. Mais a de "fabricação do fermento", esta realizada uma única vez, mas que dura 5 dias. 

Fiz várias experiências, de várias fontes. Esta foi a que escolhi, a que, para já, resultou bem para o meu gosto. 

Ainda passarei a outras farinhas para além do trigo e centeio, e posteriormente adicionarei sementes. Será possível, com certeza, usar outras farinhas, ou misturas com diferentes farinhas com menos glúten ou sem glúten (espelta, kamut,  milho, arroz, ….). Mas em anteriores experiências com pão, sem glúten é muito mais difícil um pão fofo. Normalmente requer outros ingredientes adicionais (ex. goma de xantana).

O difícil é acertar o passo para ter pão todos os dias. Mas não é preciso fazer diariamente, porque este pão mantém-se bom pelo menos alguns dias.

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PÃO DE FERMENTAÇÃO LENTA 

Ingredientes:
·         Farinha de centeio integral biológica
·         Farinha de trigo branca e/ou integral biológica
·         Água
·         Sal

1 – Fazer o fermento natural

Fermento natural: com as leveduras e lactobacilos naturais dos cereais. Por isso a importância de usar integral e biológico para fazer o fermento. E com o centeio resulta melhor.

Ingredientes:
·         Farinha de centeio integral biológica
·         Água

Dia 1 – Num frasco de vidro, juntar 1 colher de sopa rasa de farinha de centeio integral biológica e 2 colheres de sopa rasas de água sem cloro, morna.  Deixar em local reservado, ex. dentro de um armário, 24 horas.
Dia 2 – Juntar mais 1 colher de sopa rasa de farinha de centeio integral biológica e 2 colheres de sopa rasas de água sem cloro, morna.  Voltar a deixar em local reservado, ex. dentro de um armário, 24 horas.
Dia 3, 4 e 5 – Repetir o dia 2.

Se a mistura desenvolveu bolhinhas bem visíveis lateralmente, é porque já é fermento. Se não, tentar mais um dia . Se não resultar em bolhinhas, deitar fora. Voltar a tentar, e usar um local mais morno (menos frio).

Guardar no frigorífico. Se não for usado, pelo menos uma vez por semana deve ser “alimentado”/ reativado da seguinte forma:

·         Alimentar / reativar o fermento: juntar 1 colher de sopa rasa de farinha (de preferência de centeio integral biológica, mas também pode ser trigo) e 1 colher de sopa de água sem cloro, de preferência morna. Misturar. Deixar fora do frigorífico de um dia para o outro.  Está pronto a usar ou a voltar para o frigorífico mais 7 dias.

2 – Fazer a massa mãe (para um pão de cerca de 1 kg)

Ingredientes:
·         40 g farinha de centeio (de preferência integral e biológica)
·         40 g farinha de trigo branca ou integral (de preferência integral e biológica)
·         80 ml água sem cloro (de preferência morna)
·         40 g fermento natural

Também pode ser usado só centeio, ou só trigo.  Usar igual quantidade de água que o total de farinha (em peso) e metade de fermento natural.

Numa bacia pequena misturar as farinhas e a água, juntar o fermento. Misturar e deixar levedar num local reservado, como por exemplo dentro de um armário da cozinha ou no forno desligado. 
Fica de um dia para o outro, ou pelo menos 5-6 horas a levedar.
A massa mãe cresce mais ou menos para o dobro em volume.

Usar parte da massa mãe para fazer o pão (cerca de 10% do peso do pão) e guardar a restante (pelo menos 50 g) como fermento natural no frigorífico. 
Reativar ou alimentar conforme ponto anterior.

3 – Fazer a massa do pão (para um pão de cerca de 1 kg)

Ingredientes:
·         300 g farinha de trigo branca (de preferência biológica)
·         100 g farinha de trigo integral (de preferência biológica)
·         50 g farinha de centeio integral  (de preferência biológica)
·         450 ml água sem cloro (de preferência morna)
·         2 colheres de chá de sal grosso
·         100 g fermento natural

Numa bacia média misturar as farinhas e o sal. Juntar a água morna e misturar bem. Juntar o fermento e misturar novamente.
Forrar uma forma retangular (tipo bolo inglês) com papel vegetal. Deitar a massa na forma que não deve ultrapassar metade da mesma.
Deixar levedar num local reservado, como por exemplo dentro de um armário da cozinha ou no forno desligado. Pelo menos 2-3 horas ou até ficar no dobro do volume (no verão é mais rápido, no inverno mais lento).

Quanto às farinhas, também pode ser usado só trigo, ou só trigo branco, ou outras misturas ou outras percentagens.    

4 –  Cozer o pão

Ligar o forno, colocar lá dentro um recipiente com água (para dar humidade) e aquecer aos 200 ºC (eu uso calor de cima e de baixo, forno elétrico). Só quando tiver atingido a temperatura é que se deve meter a forma com a massa no forno.

Coze cerca de 25 -30 minutos. Retirar do forno e retirar da foram. Bater por baixo como quem bate à porta: se soar a oco, é porque está pronto. Bom proveito. 


Manuela Araújo, 19/3/2020
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