Vamos continuar a ter “piroverões” (Jorge Paiva)
Os culpados são todos os governos que temos tido, particularmente a partir da extinção dos Serviços Florestais. Porém, todos esses governantes, não só não assumem o que fizeram, como não são capazes de admitir o erro e, no mínimo, criarem novamente os Serviços Florestais.
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Imagem daqui |
O Governo do Líbano foi avisado, até por escrito, de que havia o risco do que ocorreu. Depois, demitiram-se como se isso fosse a condenação que mereciam pela mortalidade e destruição de que foram culpados.
Por cá temos a tragédia dos anuais Verões com incêndios florestais devastadores e mortíferos, apesar de há mais de 40 anos termos (eu e outros) alertado, muitas vezes, no que estavam a transformar o nosso país, particularmente as regiões Norte e Centro: numa pira contínua de lenha altamente inflamável, isto é, eucaliptal (produtos aromáticos voláteis e altamente incandescentes) e pinhal (resina, volátil e altamente incandescente) intensivos, contínuos e contíguos. Mostrei isso de helicóptero a um Presidente da República (Mário Soares). Não valeu de nada.
Em vez de travarem ou obrigarem a uma arborização cuidada e ordenada, fizeram ainda pior: extinguiram os Serviços Florestais. Assim, deixou de haver qualquer entidade competente para regularizar e não deixar arborizar da maneira desmesurada e contínua, como aconteceu durante estas dezenas de anos. Por outro lado, nos Serviços Florestais havia os guardas florestais que viviam no meio rural. Eram vigilantes permanentes e conheciam bem a região onde circulavam. Podia haver incêndios, mas nunca foram tão devastadores e mortíferos como os actuais.
Os culpados são todos os governos que temos tido, particularmente a partir da extinção dos Serviços Florestais. Porém, todos esses governantes, não só não assumem o que fizeram, como não são capazes de admitir o erro e, no mínimo, criarem novamente os Serviços Florestais. Além disso, muito do património construído (particularmente casas florestais) ainda existe, embora a maioria bastante delapidado.
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Infelizmente, vamos continuar com piroverões, plenos de fogos florestais, mortes e enormes despesas, muito superiores à de uns Serviços Florestais bem estruturados e um país ruralmente ordenado.
Finalmente, com tantos incêndios florestais e sem Serviços Florestais com capacidade de rearborizar ordenadamente, as regiões montanhosas do país, estão a transformar-se em desertos de rocha nua, por erosão pluviosa, com consequente arrastamento de solos, como já é visível, particularmente no Norte e Centro do país.»
Jorge Paiva, Biólogo
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