A transição vista por Leonardo Boff
por Leonardo Boff, Fevereiro 2011
As grandes crises comportam grandes decisões. Há decisões que significam vida ou morte para certas sociedades, para uma instituição ou para uma pessoa.
A situação atual é a de um doente ao qual o médico diz: ou você controla suas altas taxas de colesterol e sua pressão ou vai enfrentar o pior. Você escolhe.
A humanidade como um todo está com febre e doente e deve decidir: ou continuar com seu ritmo alucinado de produção e consumo, sempre garantindo a subida do PIB nacional e mundial, ritmo altamente hostil à vida, ou enfrentar dentro de pouco as reações do sistema-Terra que já deu sinais claros de estresse global. Não tememos um cataclisma nuclear, não impossível mas improvável, o que significaria o fim da espécie humana. Receamos isto sim, como muitos cientistas advertem, por uma mudança repentina, abrupta e dramática do clima que, rapidamente, dizimaria muitíssimas espécies e colocaria sob grande risco a nossa civilização.

O que está, finalmente, em jogo com a questão climática? Estão em jogo duas práticas em relação à Terra e a seus recursos limitados. Elas fundam duas eras de nossa história: a tecnozóica e a ecozóica.
Na tecnozóica se utiliza um potente instrumental, inventado nos últimos séculos, a tecno-ciência, com a qual se explora de forma sistemática e com cada vez mais rapidez todos os recursos, especialmente em benefício para as minorias mundiais, deixando à margem grande parte da humanidade. Praticamente toda a Terra foi ocupada e explorada. Ela ficou saturada de toxinas, elementos químicos e gases de efeito estufa a ponto de perder sua capacidade de metabolizá-los. O sintoma mais claro desta sua incapacidade é a febre que tomou conta do Planeta.

O futuro se joga entre aqueles comprometidos com a era tecnozóica com os riscos que encerra e aqueles que assumiram a ecozóica, lutam para manter os ritmos da Terra, produzem e consomem dentro de seus limites e que colocam a perpetuidade e o bem-estar humano e da comunidade terrestre como seu principal interesse.
Se não fizermos esta passagem dificilmente escaparemos do abismo, já cavado lá na frente."
Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor universitário brasileiro
Manuela
ResponderEliminarNão conhecia este texto e agradeço-lhe muito mais esta partilha e toda a aprendizagem que me proporciona. Não sou muito de comentar, mas acredite que vou "absorvendo" aquilo que escreve e, sempre que considero oportuno, transmito aos meus alunos. O seu blogue, mesmo que às vezes lhe possa parecer uma gota de água (e mesmo que fosse, já não era pouco) é já um mar onde mergulhamos e saímos com a energia renovada que só o conhecimento e esperança podem oferecer.
Hoje, de manhã, li um artigo que falava da opção de algumas sociedades pelo suicídio colectivo: Que aquilo que é lógico e pragmático nem sempre acontece. Por vezes, as sociedades escolhem o caminho da derrota fulminante, ou do longo suicídio.
Acredito sinceramente que esta crise nos oferece a oportunidade única de mudar, de nos responsabilizarmos. Acredito que este seja o início da era eczóica, acredito que não optemos pelo suicídio colectivo, mas sim por uma transformação e que estejamos a viver o início de uma mudança transformadora.
Um abraço grato
Teresa
Esta passagem da era tecnozóica para a ecozóica, faz-me lembrar da fábula do Escorpião e da tartaruga, para quem não conhece.
ResponderEliminarO escorpião está na margem do rio e quer passar para o outro lado e não sabe nadar, então passa a tartaruga a nadar e ele pede-lhe se ela o pode transportar para o outro lado, ela primeiramente recusa porque tem medo que o escorpião a pique durante a travessia, então o escorpião responde que isso não tem lógica, se ele a picar no meio do rio morrem os 2, pois ele não sabe nadar. Então a tartaruga aceita fazer-lhe o favor, vão eles já no meio do rio, o escorpião não se consegue controlar e pica a tartaruga, ela pergunta porque ele a picou sendo que vão morrer os 2 e isso não tem lógica, ele responde não se trata de lógica é o instinto e no fim morrem o 2.
O nosso sistema económico já não se baseia na lógica, só no instinto do crescimento mesmo que isso nos conduza á desgraça, espero que a travessia não seja idêntica ao da fábula.
Saudações
Mas não existe este "instinto de crescimento".
ResponderEliminarE só nos conduzirá á desgraça, se continuarmos a achar, que cada um de nós, não faz a diferença. A desculpa: "os outros não fazem, porque hei-de eu fazer?"
Sei que não é tão simples como falo, porque andam todos cada vez mais ocupados com o programa que lhes mostram, que mal sabem o que vai acontecendo no mundo mais aprofundadamente. Só sabem o que os meios de comunicação lhes vão reportando, o que é muito pouco.
As notícias da televisão são apenas um sobrevôo do que na realidade acontece.
É por isso que a maioria pouco ou nada faz.
É preciso toda as pessoas que têm esta consciência, falarem sem terem medo de ser incovenientes.
Porque se se começarem a ouvir a mesma coisa em todos os lados, talvez levem mais a sério.
Afinal, se esta é a realidade, porque hei-de eu fingir que não sei o que sei?
Viva a Vida!
Teresa
ResponderEliminarObrigada pelas palavras de optimismo, alento e esperança que aqui deixou. Já o li há uns dias, e ainda não me senti inspirada para lhe responder como merecia, mas quero que saiba que o seu comentário me levantou e muito o "astral", foi uma verdadeira reposição energética :)
Sinceramente, obrigada por tudo e sobretudo, obrigada por acreditar!
Beijinhos
Carlos
ResponderEliminarAdorei a fábula e a comparação. Infelizmente, por vezes sou tentada a pensar que será mesmo assim, pois o que vejo à nossa volta assim o aponta.
Quanto ao nosso sistema económico, eu não sei se se pode chamar instinto, porque ele não é um animal: é uma besta robotizada movida a ganância de lucro que não vê mais nada. De facto, já perdeu a lógica há mais de um século.
Obrigada e saudações
Ana Teresa
ResponderEliminarEsse "instinto" de crescimento não é um instinto, é mais uma "coisa" induzida pelos fulanos que inventaram o capitalismo e que o povo absorveu demasiado.
Mas continuemos cada vez mais a apontar o dedo, a difundir ideias que "revoguem" aquelas que foram pregadas às gerações anteriores.
Um a um, grão a grão, gota a gota, a bem ou a mal, as coisas mudarão.
Obrigada e "Viva a Vida" :