O regresso do fascismo

O termo fascismo deriva da palavra em latim fasces, que designava um feixe de varas amarradas, e que, acopladas a um machado, se tornou no símbolo do poder de castigar ou de matar.  

Imagem obtida aqui
Embora sem definição consensual, o fascismo tem como características, as ambições totalitárias, o militarismo, a mobilização em massa da população,  a crença num líder forte com poder absoluto, a educação para a obediência, o desencorajamento do pensamento crítico, o uso da violência para repressão política, o recurso a bodes expiatórios, o populismo e a demonização de grupos sociais, entre outros aspectos.

Os europeus conhecem bem o fascismo que grassou na Europa da primeira metade do século XX, e assumidamente assim designado por Mussolini na Itália (Partido Nacional Fascista) e com o nome de Nacional Socialismo na Alemanha, com  Hitler, que ficou conhecido como Partido Nazi ou Nazista (de Nationalsozialist).  Apesar de associado habitualmente à extrema direita, o fascismo também existe na extrema esquerda - como o foi o regime de Estaline.


Símbolo do fascismo (wikipedia)
«O fascismo nasceu dentro da sociedade. A ignorância da sociedade de massa é também uma ignorância dos valores espirituais e morais. O fascismo surge nesse contexto. Como afirmo em Para combatir esta era:  apesar do progresso científico e tecnológico e do enorme acesso à informação, a força dominante da nossa sociedade é a estupidez organizada. Mão se detém o fascismo através da economia, da tecnologia ou da ciência, nem mesmo através de através das instituições - porque elas dependem das pessoas que as compõem - mas apenas com uma mentalidade diferente.  

Mann, Camus, Sócrates e muitos outros pensadores alertaram que a "nobreza de espírito" é um dos ideais mais democráticos que existem. Para cultivá-lo, não é preciso dinheiro, ser  tecnologicamente avançado ou ter um diploma universitário. A nobreza de espírito é uma mentalidade, é saber o que é a dignidade humana.»
Fonte: Rob Riemen (em entrevista, daqui)


O pequeno livro O Eterno Retorno do Fascismo de Rob Riemen, resume em poucas páginas , como o fascismo é como um vírus que se encontra latente no seio da sociedade, e como o egoísmo e a falta de valores são o veículo que lhe permite desenvolver-se. Abaixo algumas transcrições:

"Albert Camus e Thomas Mann não foram decerto os únicos a compreender depressa, mas a guerra terminou, o que todos ansiamos esquecer: o bacilo fascista estará sempre presente no corpo da democracia de massas. negar este facto ou dar outro nome ao bacilo não nos tornará resistentes a ele. Pelo contrário.  Se queremos combatê-lo eficazmente, teremos de começar por admitir que está novamente prestes a contaminar a nossa sociedade, teremos de o chamar pelo seu nome: «fascismo». Além disso, o fascismo nunca é um desafio, é sempre um grave problema porque desemboca inevitavelmente no despotismo e na violência. E chamamos perigo a tudo o que provoque estas consequências. Negar a existência de um problema ou, pior ainda, de um perigo é praticar a política da avestruz. Quem não aprende com a história está condenado a vê-la repetir-se.
... ...
«Somos antifascistas!»
Em 2004, o eminente historiador americano e especialista em história do fascismo, Robert O. Paxton, publicou a sua notável obra The Anatomy of Fascism, onde sublinha que, no século XXI, nenhum fascista se designará a si próprio como tal. Os fascistas não são estúpidos e são mestres na arte da mentira. Os fascistas contemporâneos distinguem-se em parte pelo que dizem, ainda que seja igualmente importante o modo como actuam. À semelhança de Togliatti, Paxton afirma que o fascismo, devido á sua angustiante falta de ideias, e ausência de valores universais, assumirá sempre a forma e as cores do seu tempo e da sua cultura. Assim, o fascismo na América será religioso e contra os Negros, ao passo que na Europa Ocidental será laico e contra o islão, na Europa do leste, católico ou ortodoxo e anti-semita. A técnica usada é idêntica em toda a parte: um líder carismático populista, para mobilizar as massas; o seu próprio grupo é sempre vítima (das crises, da elite ou dos estrangeiros); e o ressentimento orienta-se todo para um «inimigo». O fascismo não precisa de um partido democrático cujos membros sejam individualmente responsáveis; necessita de um líder inspirador e autoritário ao qual se atribuem instintos superiores(as suas decisões não têm de ser justificadas), de um líder capaz de ser seguido e obedecido pelas massas. O contexto em que esta forma de política pode dominar é o de uma sociedade de massas afectada pela crise que ainda não aprendeu as lições do século XX."

Fonte: "O Eterno Retorno do Fascismo", Rob Riemen, 2010, edição portuguesa:  Bizâncio,  2012


O pensamento crítico e os valores universais, como a solidariedade, a justiça, a liberdade, a bondade, são fundamentais para o reconhecimento e luta contra o fascismo, pois é na ausência dos mesmos que ele consegue crescer.

Comentários

  1. "o bacilo fascista estará sempre presente no corpo da democracia de massas. negar este facto ou dar outro nome ao bacilo não nos tornará resistentes a ele. Pelo contrário."

    Oportuno, tudo
    E de tudo, sobretudo
    o que acima sublinho

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