«Um planeta verde por via da vegetação, branco por via das nuvens e azul por via da água. Estas três cores, que são a assinatura do nosso planeta, por um ou outro motivo, não existiriam sem as plantas. São estas que tornam a Terra aquilo que conhecemos dela. Sem as plantas, o nosso planeta assemelhar-se-ia muito às imagens que possuímos de Marte ou de Vénus: uma esfera estéril de rocha.
No entanto, conhecemos muito pouco ou quase nada destes seres que representam a quase totalidade do que vive, que literalmente formaram o nosso planeta, e dos quais todos os animais – obviamente, homens incluídos – dependem. É um grande problema, que nos impede de compreender o quão importantes são as plantas para a vida na Terra e para a nossa própria, mais imediata, sobrevivência. Ao percepcionarmos as plantas como algo mais próximo do mundo inorgânico do que da plena vida, cometemos um erro fundamental de perspectiva, que nos poderá custar caro. Para tentar remediar a escassa consciência que temos do mundo vegetal e a baixa estima pelo mesmo, dado que nós homens compreendemos somente as categorias humanas, este livro trata as plantas como se todas elas fizessem parte de uma nação, ou seja, de uma comunidade de indivíduos que partilham a mesma origem, história, organizações e objectivos: a Nação das Plantas.

Ao olharmos para as plantas como quem olha para uma nação humana, os resultados são surpreendentes. A Nação das Plantas, com a sua bandeira tricolor, verde, branca e azul (são as cores do nosso planeta e dependem da presença delas), representa a mais populosa, importante e difusa nação da Terra (somente as árvores totalizam um número acima dos três biliões). Constituída por cada um dos seres vegetais presentes no planeta, é a nação da qual todos os outros organismos vivos dependem. Pensavam que as grandes potências mundiais eram os verdadeiros donos da Terra ou achavam que dependiam dos mercados dos Estados Unidos e da União Europeia? Bem, estavam enganados. A Nação das Plantas é a única, verdadeira e eterna potência planetária. Sem as plantas, os animais não existiriam; a própria vida no planeta, provavelmente, não existiria, e no caso de existir, seria algo de terrivelmente diferente. Graças à fotossíntese, as plantas produzem todo o oxigénio livre no planeta e toda a energia química consumida pelos outros seres vivos. Existimos graças às plantas e só poderemos continuar a viver se estivermos na sua companhia. Termos esta noção bem presente ser-nos-ia de grande ajuda.
O homem, ainda que se comporte como tal, não é de modo algum o dono da Terra, mas somente um dos seus condóminos mais desagradáveis e molestos. Deste modo, desde a sua chegada, há cerca de 300 000 anos – nada quando comparados com a história da vida, que remonta a 3,8 mil milhões de anos –, ele conseguiu alterar tão drasticamente as condições do planeta que o tornou um lugar perigoso para a sua própria sobrevivência. As causas deste comportamento irresponsável explicam-se em parte pela natureza predatória inata do homem e penso que noutra parte dependem da sua total incompreensão das regras que regem a existência de uma comunidade de seres vivos. Últimos a chegar ao planeta, comportamo-nos como crianças que provocam desastres, desconhecendo o valor e o significado das coisas com que jogam.»
Fonte: extrato do prólogo de Nação das Plantas, de Stefano Mancuso, obtido no Público em: https://www.publico.pt/2020/02/27o livro /p3/noticia/prologo-nacao-plantas-stefano-mancuso-1905550Imagens: fotos do livro
Ainda estou a começar a ler o livro "A Nação das Plantas" e já me parece que vou adorar, logo pelo prólogo, acima transcrito, parcialmente, e pela constituição dessa nação, a Carta dos Direitos das Plantas, na imagem. Claro, também adorei ler "
A Revolução das Plantas", do mesmo autor, por isso, a leitura promete.
Stefano Mancuso (Catanzaro, 9 de maio de 1965), faz hoje 60 anos, e está de parabéns!
É um botânico italiano e cientista de renome mundial, que dirige o Laboratório Internacional de Neurobiologia Vegetal (LINV) da Universidade de Florença, em Itália, onde é professor associado do Departamento de Ciências de Produção Agro-alimentar e do Ambiente. Em 2018, recebeu o XII Prêmio Galileo de escrita literária de divulgação científica pelo livro Revolução das plantas.
Comentários
Enviar um comentário
Obrigada por visitar o blogue "Sustentabilidade é Acção"!
Agradeço o seu comentário, mesmo que não venha a ter disponibilidade para responder. Comentários que considere de teor insultuoso ou que nada tenham a ver com o tema do post ou com os temas do blogue, não serão publicados ou serão apagados.