As plantas podem ajudar-nos (por Stefano Mancuso)

«A defesa das florestas deveria ser o tema de um acordo internacional que vinculasse o maior número de Estados possível - sobretudo aqueles no interior dos quais se encontram as principais reservas do planeta - para a completa intangibilidade das mesmas. Da funcionalidade residual destes ecossistemas, repito, depende a nossa sobrevivência. 

Sem um número suficiente de florestas não existe nenhuma possibilidade real de inverter a tendência de crescimento de CO2. A deflorestação deveria ser considerada um crime contra a humanidade e punida em conformidade. Porque é exatamente disso que se trata. 

A intangibilidade das florestas e a manutenção da sua vida, assim como a obrigação de manter intactos solo, ar e água, deveriam ter lugar na Constituição de todos os Estados, e não apenas na nossa Constituição da Nação das Plantas. Dever-se-ia ensinar às crianças nas escolas e aos adultos em todos os outros locais que a nossa única possibilidade de sobrevivência depende das plantas. Os realizadores de cinema deveriam fazer filmes sobre este assunto, e os escritores, livros. 

Todos deviam ser mobilizados, e se acham que estou a exagerar e não veem qualquer razão para se levantarem do sofá a fim de defenderem o ambiente e as florestas, então fiquem a saber que esta é a única e verdadeira emergência mundial. A generalidade dos problemas que afligem hoje em dia a humanidade, mesmo que aparentemente longínquos, estão relacionados com a ameaça ambiental e representam apenas sintomas inofensivos daquilo que está para vir se não enfrentarmos esta questão com a devida firmeza e eficiência.

Oseja de Sajambre, Espanha, 2/5/2025

As plantas podem ajudar-nos. Somente elas são capazes de repor a concentração de CO2 em níveis inofensivos. 

As nossas cidades, ao abrigarem 50% da população mundial (70%, em 2050), são igualmente os lugares do planeta responsáveis pela produção de maiores quantidades de CO2. Deveriam estar completamente cobertas de plantas. Não unicamente nos espaços designados: parques, jardins, alamedas, canteiros, etc., mas em todo o lado, literalmente: nos telhados, nas fachadas dos prédios, ao longo das ruas, nos terraços, varandas, chaminés, semáforos, divisórias de estradas, etc. 

A regra deveria ser unicamente e simples: onde quer que seja possível fazer crescer uma planta devia haver uma. Os custos seriam irrelevantes, a vida das pessoas melhoraria de muitas maneiras, não exigiria nenhuma revolução nos nossos hábitos, como muitas das soluções alternativas propostas, e teria um grande impacto na absorção de dióxido de carbono. 

Defendamos as florestas e cubramos de plantas as nossas cidades... O resto não tardará a acontecer.»

Parte final do Artigo 5º - A nação das plantas garante o direito à água, solo e atmosfera limpos, do livro "A Nação das Plantas" de Stefano Mancuso, 2019 (edição portuguesa de 2020 Editora Pergaminho)

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