Elefantes na sala e os Golias
Não sei se é o calor, se os incêndios, se as tristes notícias e a triste política, mas ultimamente, de uma forma mais profunda que o habitual, tenho-me sentido desanimada e muito pessimista com o caminho que leva a humanidade.
Vejo que temos um "elefante gigante na sala", mas parece que quase ninguém o vê, e quase todos agem como se ele não existisse. Esta sociedade está alienada pelo consumo barato e fácil, os muito ricos aproveitam-se dessa alienação e cada vez se tornam mais poderosos, e os políticos brincam ao jogo da política, uns alineados, como o resto da população, outros ao serviço dos tais muito ricos, esperando pelas suas migalhas. E ignoram o "elefante" que já se mexe e em breve vai destruir tudo. Já não enxergam sequer as formigas que sobem pelo elefante, apenas reparam no pó que paira no feixe de luz que ilumina um canto da sala.
É desesperante ver o único planeta que se conhece com vida, o único que se conhece com vida inteligente, a caminhar alegremente para o mais profundo dos abismos, para a autodestruição.
Acho absolutamente surpreendente que a grande maioria dos responsáveis políticos do mundo estejam completamente alheados das ameaças eminentes, e já atuantes, do colapso civilizacional: as alterações climáticas em aceleração violenta, a irresponsável e avassaladora depredação de recursos, as desigualdades a crescer exponencialmente - com os bilionários a ficarem todo-poderosos, e as guerras a multiplicarem-se por motivos mais ou menos ocultos, com ameaças nucleares apocalípticas. Em paralelo com este alheamento dos políticos, a cegueira da população. Uns porque preferem não saber, e assim não atuar, outros porque se sentem impotentes para proteger o futuro, e muitos porque estão preocupados em sobreviver.
Entretanto, deparo-me com a entrevista do Guardian a Luke Kemp, investigador do Centro de Estudos de Risco Existencial da Universidade de Cambridge, que, com muito estudo e conhecimento da História, se encontra com a mesma sensação que eu: pessimista em relação ao futuro, porque vê o colapso da sociedade eminente – os estragos que, não um “elefante”, mas os “Golias”, estão já a fazer na nossa casa, no nosso mundo.
Kemp chama Golias às sociedades construídas com base na dominação, como o Império Romano: Estado sobre o cidadão, ricos sobre os pobres, senhores sobre os escravos e homens sobre as mulheres.
Convido-vos a ler o interessante e alarmante artigo de Damian Carrington no Guardian sobre a referida entrevista, que tem como base o livro de Kemp “Goliath's curse “ (A maldição de Golias ). Ou podem ler a tradução em português em A autoextinção é o mais provável.
P.S.: o termo “elefante” é aqui usado como a conhecida metáfora de “o elefante na sala”, que surgiu da fábula russa "O Homem Curioso" de Ivan Krylov, de 1814, em que um homem visita um museu e percebe todos os detalhes, menos o elefante gigante presente; e não pretende depreciar de qualquer forma os animais elefantes, que tanto aprecio.
Imagem criada com IA
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