Pilhagem Climática
O relatório, tornado público ontem, dia 29/10/2025, pode ser consultado (em várias línguas) em:
Climate Plunder: How a powerful few are locking the world into disaster
Transcrevo para aqui um pouco do relatório síntese em português:
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- Os super-ricos estão a esgotar o nosso orçamento climático
Está amplamente comprovado que os países ricos são responsáveis pelas emissões históricas de carbono que provocaram o aumento da temperatura global, mas os indivíduos mais ricos do mundo — independentemente do país onde vivam — também contribuíram de forma significativa para este legado perigoso.
A análise da Oxfam sobre as emissões baseadas no consumo concluiu que, desde 1990, os 1% mais ricos da população mundial esgotaram 15% do nosso orçamento de carbono. As emissões per capita dos 0,1% mais ricos aumentaram 92 toneladas entre 1990 e 2023, em contraste com um aumento de apenas 0,1 tonelada para a metade mais pobre da humanidade. A percentagem das emissões atribuída aos 1% mais ricos aumentou 13% nesse período, enquanto a percentagem correspondente aos 50% mais pobres diminuiu 3%.
As emissões dos super-ricos são, de forma evidente, insustentáveis. Se todos emitíssemos como os 1% mais ricos, o orçamento de carbono desapareceria em menos de três meses. Restabelecer o equilíbrio das emissões é essencial para ganhar mais tempo rumo a uma transição sustentável e as pessoas mais ricas têm de ser as que reduzem mais e mais depressa. Para manter o aquecimento global dentro do limite máximo de 1,5 °C, a Oxfam prevê que os 1% e os 0,1% mais ricos terão de reduzir as suas emissões per capita em 97% e 99%, respetivamente, até 2030.
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A Oxfam identificou igualmente as emissões de 222 indivíduos, revelando que as suas emissões totais provenientes de investimentos em 2024 ascenderam a 1,85 mil milhões de toneladas. Este valor equivale a 4% das emissões globais e colocá-los-ia como o quinto país mais poluente do mundo.
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- Os super-ricos distorcem as políticas e os termos do debate
As pessoas mais ricas do mundo e as empresas que dirigem exercem também um poder excessivo sobre a formulação de políticas e distorcem o contexto social e político mais amplo em função dos seus interesses.
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A influência corporativa exerce-se também através de estratégias de relações públicas amplamente financiadas. Por exemplo, o infame calculador de pegada de carbono da BP promoveu uma narrativa que transferia a responsabilidade climática para os indivíduos. As empresas de combustíveis fósseis e os seus beneficiários gastam igualmente somas avultadas em desinformação climática. Os irmãos Koch, que fizeram a sua fortuna com combustíveis fósseis, doaram mais de 120 milhões de dólares a organizações que atacam a ciência do clima. Em 2024, a cadeia francesa CNews, atualmente propriedade do multimilionário de extrema-direita Vincent Bolloré, ligado ao setor dos combustíveis fósseis, foi multada em 80 000 euros por divulgar desinformação climática.
Talvez ainda mais preocupante seja a tendência de doadores ricos financiarem movimentos de extrema-direita e racistas, profundamente céticos em relação às alterações climáticas e contrários às medidas para as combater, com o objetivo de reforçar um ambiente político que impeça a ação climática, ao mesmo tempo que alimenta o ódio e a divisão.
- Provocam crise após crise, enquanto as pessoas mais afetadas são sistematicamente excluídas
As emissões excessivas dos 1% mais ricos estão também a alimentar a fome e a agravar crises económicas e sociais mais amplas. Trinta anos das suas emissões provocaram perdas agrícolas suficientes para alimentar 14,5 milhões de pessoas todos os anos. Só as emissões dos 1% mais ricos em 2019 causarão 1,3 milhões de mortes relacionadas com o calor ao longo do próximo século, sendo as mulheres e as pessoas idosas as mais vulneráveis. Estima-se ainda que as emissões deste mesmo grupo causem, até 2050, prejuízos económicos de 44 biliões de dólares nos países de baixo e médio-baixo rendimento.
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- Mas uma transformação equitativa e justa ainda é possível
As evidências são claras: é urgente agir para evitar um colapso climático total e as desigualdades extremas de poder e de riqueza que hoje existem estão a comprometer o progresso. A própria existência de uma riqueza extrema está a amplificar as emissões, e as mesmas ideologias e dinâmicas de poder que alimentam a desigualdade permitem às empresas e aos seus proprietários ricos escapar à regulamentação e manter o mundo dependente dos combustíveis fósseis. Os governos de todo o mundo devem romper este ciclo vicioso
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Leia o relatório completo na fonte:
Nafkote Dabi, Alex Maitland e Astrid Nilsson Lewis. (2025). Climate Plunder: How a powerful few are locking the world into disaster. Oxfam International. DOI 10.21201/2025.000091. https://policy-practice.oxfam.org/resources/climate-plunder-how-a-powerful-few-are-locking-the-world-into-disaster-621741/


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